Cale-se

Eu deveria deixar de lado certas condutas - eu sei, não precisa ser me dizer. Porém é mais forte do que eu certos hábitos, sobretudo esse fluxo permanente de idéias e teorias... Essa forma louca e desconexa de (re)criar histórias e minha própria história...

Assim como deveria ter absoluta certeza que 10 anos me fizeram crescer, modificar-me, querer algo além e saber que há casos e casos - Claro que nada disso entra na minha cabeça e nem o Grande Retorno de Saturno faz com que eu me sinta melhor ou que eu perca essa vontade desesperadora de querer sumir, desaparecer e recomeçar na Nova Zelândia.

Penso, repenso, coloco os livros na estante, penso mais uma vez, lixo as unhas que me enervam, repenso cada passo, tomo banho, penso no que deveria ter falado, pseudo-trabalho, repenso o que eu sei sem ninguém ter me dito, bebo três litros de água (como manda a medicina moderna e a antiga também...), penso nas escolhas que fiz, vejo t.v. (enquanto ainda pseudo-trabalho), repenso tudo uma vez mais...

E a conclusão é que eu realmente não sei.

Porque parece-me que há situações diferentes, momentos diferentes, realidades diferentes - mas isso me soa quase como universos paralelos. Não é, mas, no fundo, é. Parece igual, mas se olhar melhor vê que há diferenças. Entretanto, as histórias são muito similares... E tudo se confunde. Sentimentos iguais, contradições iguais... Realmente se passaram 10 anos?

Não sei, mas acho que tudo se baseia nesse sentimento que me persegue (nesta realidade, não na outra: o que mostra que as histórias não são iguais... mesmo que isso não me reconforte...) - eu que construí, eu que corri atrás, eu que guiei, eu que escrevi a história; se não fosse pela minha insistência (eufemismo para chatice) não teríamos ido até aonde fomos. E quando tudo isso se formula (várias vezes, é bem verdade... é isso que me tirar a paz) tenho vontade de afundar no sofá e de lá nunca mais sair. Por que, afinal de contas, qual foi o trabalho da outra parte? (me vem uma voz falar de injustiças... não, eu não estou sendo injusta. e eu sei disso. falar a verdade não é injustiça. mesmo que a verdade tenha várias interpretações). Ah, sim... considera-se trabalho o "colocar panos quentes" e me mandar recolher-me a minha insignificância? (quem é esta pessoa que fala, afinal de contas?)

Eu quero acreditar. Juro que quero. Porque há os pormenores que me fazem muito bem. O problema é que eu acreditei tanto e tanto. E para quê? Me diz, para quê... o que consegui, além de meia-verdades e muitas mentiras? O que consegui, me diz, além de um "foda-se e fique quietinha aí no seu canto"?

Me dói. Por dentro e por fora. E só por isso escrevo. Porque por mim seria sempre silêncio. Se os pormenores não tanto me interessassem, eu não me importaria em falar - Carpe Diem é meu lema. Porém... o não saber, o ter medo de tocar, o não saber se há como e por quê se entregar de verdade... Isso me angustia.

Sim, sim. Me dói. Mas não todo o tempo. Não o tempo todo. Acho que o problema é que quando não está por perto, quando eu tenho a sensação de que há algo atrás da cortina e não tenho como saber, é nessas horas que me dói. Sim, eu sei. Me dói porque não confio. Não como deveria ser. Não como era no princípio.

E a conclusão é que eu realmente não sei.

Disseram - e é verdade, não vou ser hipócrita - que alguma coisa se quebrou. Complemento: quebrou feio. Muitos, muitos e muitos caquinhos. Daquela forma que não dá mesmo pra usar super-bonder.

Entretanto...
Tudo nessa vida é reciclável.
É reutilizável.
Então, é nisso que eu acredito.
Vai pro forno, se derrete e damos nova forma.

Porém - porque sempre há poréns para mim - algo me inquieta. Muito. Algo que eu não sei de onde vem. Que me tirou o sono por ainda pouco - e eu não sei o por quê.

Uma vez mais vi Closer - falei disso lá ainda pouco, não é mesmo?

E lá estou eu no filme.
Eu sou aquela que sempre quer a verdade - a sinceridade é algo que me encanta, é bem verdade. Nunca sou falsa - só quando é em proveito próprio e não estou machucando os que realmente gosto.

Eu não minto - nem nas piores situações, nem quando eu fiz merdas colossais, nem quando corri o risco de perder o chão que me mantinha. Não há essa de "meia-verdades". Não existe essa coisa de maquiar a verdade. Se eu te faço uma pergunta direta, eu quero uma resposta direta.

Sinceramente, odeio a fala "não disse para te proteger". Não preciso ser protegida. Não sou uma criança de 5 anos que perdeu os pais e os adultos não querem atrapalhar a brincadeira no parquinho. Eu sei encarar a realidade muito bem, obrigada. Eu não sei é lidar com isso que tenho agora. Essa sensação que não explica, essa coisa de não saber mesmo o que quero e ter que tirar a balança do esconderijo... pra colocar tudo em cima.

E isso me dá medo.
Muito.
Porque eu não sou apenas uma. Tenho várias facetas. Sei o que quero, porém sei muito bem o que não quero perder - isso quem diz é uma parte minha. A outra vem e rebate - não sei o que quero e sei muito bem o que quero perder.

É difícil,
É complicado,
É doloroso.

Ainda mais quando não me deixa, me inquieta, não sai da minha cabeça. Quando não me deixa dormir, não me deixa ser eu. Nessas horas eu queria apagar, apagar tudo. Me deixar esquecida num armário.

O que acontece é que está tudo no forno. Há que esperar. Há que apagar todas as promessas e falas que foram ditas como sendo sinceras e foram gradativamente quebradas ou desmentidas. Há que jogar no lixo (jogar no lixo - não é guardar numa gaveta) tudo o que realmente não me interessa. Porém, quando é que a sensação de que tudo pode se repetir (o pior: a quase total certeza de que tudo pode se repetir), vai deixar de existir?

Não, não.
Eu não estou desistindo de nada.
Quem sou eu pra desistir? Nunca o fiz e não começarei agora... Entretanto, isso não faz com que o coração se aquiete, não faz com que o cérebro não funcione, não faz com que eu esqueça de tudo num clique e não olhe de soslaio a demora a chegar em casa... Porque tudo acaba sendo motivos... E deus, como me dói ter perdido a ilusão inicial...

É um processo longo, muito longo.
Porque recriar é mais difícil que criar. Ainda mais para eu que não sou deusa. Mera bruxa, nada mais.
Só acho que terceiros é que não estarão muito interessados em tal percurso... afinal de contas... que há de tão especial?

Afinal há algum tempo havia quem não soubesse, quem se dividisse, quem não se encantasse... E eu não saber o que ocorreu para que não existissem mais desconhecimentos e dúvidas faz com eu agora não saiba.

Não, não.
Não me entenda mal.
Não reclamo do que há no momento. Gosto do que acontecesse, do que há de vida, do tratamento e do cuidado... A merda é que não consigo tocar sem medo de achar que não vou me machucar... Afinal de contas... Antes também era um ótimo tratamento e cuidado, havia a vida e acontecia coisas divinas... e no final, me caiu como uma farsa...

É uma sensação de estar sentada num banco não muito confortável, sabe?
Eu sei, eu sei. Há que dar tempo ao tempo.
Mas não é só isso.
É essa coisa de não poder realmente controlar o futuro, ao mesmo tempo que acho que o conheço tão claro como o meu passado.

Desculpe-me tamanho desabafo, talvez desnecessário para quem não está aqui dentro, talvez exagerado e fora de lugar. Mas não para mim. Afinal de contas, o meu tempo interior é algo muito complexo...

O que acontece é que certas coisas eu só consigo mencioná-las de longe. Talvez porque elas só apareçam mesmo quando estou longe. E também para que eu não me perca no meio do discurso.

Olha, tudo o que eu tenho nesse momento é isso.
Tentando ir.
Não querendo ficar.
Respirando fundo.
Pensando em outras coisas.
Mas... digamos que sou multiskill... faço tudo isso e muito mais ao mesmo tempo.
E eu sei.
Pego muita gente de calças curtas...

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