E de repente ela estancou. Parou e foi pega de surpresa. Afinal, havia acontecido, havia vivido e havia sentido. Em vários momentos pensou em deixar de lado. Pensou que realmente não valia a pena. E pensou em desistir. No momento, era o mais sábio, acreditava. Então, esperou. Esperou e desejou. Desejou muito e além.
Mas o que mais queria, não aconteceu.
E o que não queria, acabou desejando também - compreenda que as idéias estavam deveras confusas. Na verdade, era muita coisa ao mesmo tempo. Muita falta, muita ansiedade, muita escuridão, e tudo vinha como um tsunami - quando pensou que as coisas se acalmavam, vinha uma onda ainda maior.
E o desespero virou companhia. Porém, aos poucos ele foi adormecendo. Afinal, quando Deus fecha uma porta, abre uma janela e ela gostava muito de brincar de Poliana para se lamentar as 24 horas do dia.
Claro que foi uma ótima atriz por muito tempo. Invejável. Até hoje, são poucos os que sabem da representação do papel. Merecia um Oscar, eu juro, de tão boa e versátil. O interessante é que o papel aos poucos foi tomando conta e de repente a atuação não era mais tanto atuação assim e ela foi se dando conta que não sabia muito bem o porquê de tamanho desespero.
E se lembrou, também, que muitas vezes a solução do problema está bem no meio do problema e somos nós que não queremos vê-la.
E foi com essa verdade que ela se deparou um dia no espelho. E sim, isso foi muito tempo depois. E não se sabe até hoje se teve a ver com a terapia ou não. O caso é que ela pode separar bem tudo e ver que os problemas estavam, talvez, no tempo que perdera em defender coisas que não acreditava e pelas quais não sentia a menor vontade de lutar. Ela havia, simplesmente, se acostumado àquela situação e continuar no caminho que estava era cômodo - e isso fez com que visse com clareza porque diversas vezes no meio daquele limbo se sentia não sendo ela própria - porque em verdade não o era. Aquilo que vivia antes, aquilo que ela acreditava ser a vida real, era sim o sonho, a ilusão; era o que a asfixiava e não o que veio depois da chuva, daquela chuva que por muito tempo ela pensou que seria eterna.
Obviamente ela deu várias cabeçadas ao longo do caminho.
E mais de uma vez quis morrer ao acordar.
E mais de uma vez pediu para morrer ao dormir.
E beijou quem não devia.
E seguiu quem não queria.
Mas, verdade seja dita, também se divertiu nesse caminho. Porque era para se conhecer. Para se achar. E foi assim que o fez. E o fez certo. Porque um coração sem cicatrizes, não é um coração humano. E ela gosta da humanidade, do erro, do cair e levantar-se.
Mas, é claro, ela só o descobriu muito tempo depois.
E, é claro, essas idéias não vieram assim, claras e organizadas de uma só vez. Porque é preciso muitas descidas até o fundo do penhasco para que se possa compreender a luz em seus pequenos detalhes - e isso até mesmo para ela, que sempre prestou tanta atenção aos detalhes...
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