CECI
Ceci está sentada no chão da sala
Mirando com olhos vítreos
A foto na estante.
Ela mantém as pernas junto ao peito,
Se abraça para se sentir segura;
Não se mexe,
Tem a respiração lenta,
Ceci só pensa.
Pensa mas tem medo,
Não sabe o que é passado,
Não sabe o que é imaginação.
E a foto está lá
Com seus rostos a mirando de volta
Com o falso sorriso de felicidade
Que ela encara como sarcasmo.
E é realmente.
Ela já descobriu que tudo
Que um dia achou certo,
Achou seguro,
Pobre menina mimada...
Foi construído sobre areia
E a tempestade mais forte chegou.
Ceci quer respostas,
Respostas que ninguém quer dar.
Por que a hipocrisia?
Por que o egoísmo?
Por que a traição?
Chora, só sobrou isso...
Mas os olhos continuam secos,
Mesmo que ninguém fosse ver
Uma lágrima rolar.
A foto não é antiga
Só que parece que foi
Há uma eternidade.
Ceci queria fugir,
Corra, o mundo é muito grande...
Começar tudo novo,
Ser outra pessoa,
Ter outra chance,
Mas as coisas não funcionam assim na vida real.
Pobre menina mimada...
Então, ela pula o ato da fuga
E se tranca em seu mundo de horizonte limitado.
Não pode fazer isso,
Não pode fazer aquilo,
Se pensar bem, não pode nem viver.
Não pensa muito, isso machuca demais...
Queria que seu mundo fosse como está agora.
Ceci está sentada no chão da sala,
Não há ninguém na casa
E o silêncio reina...
Era assim que você queria...
De repente, Ceci se levanta.
Numa corrida vai até a estante
E pega o porta-retrato.
Prata italiana, foi enxoval de sua tataravó...
Ri ironicamente
Para a foto,
Para a frase que alguém falou.
Corre para o jardim.
Não é qualquer uma que tem um jardim como o de Ceci.
Só que ela não pensa nisso.
Só queria poder ser qualquer outra...
Cava um buraco, o mais fundo que consegue,
O mais fundo que seu ser permite.
Será que conseguiria atingir o necessário?
Joga á prata italiana lá dentro,
E aos poucos, cobre-a sem compaixão.
O que os olhos não vêem,
O coração continua sentindo.
Pobre menina mimada...
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