Dessas coisas que acontecem de repente...
[Ninguém é inofensivo]
Parou frente ao espelho. Não séria, apenas ela. Ela que vinha correndo, pensando no que tinha que fazer e repetindo como um mantra o que não devia fazer, que sabia muito bem qual seria o próximo passo mas que vivia se esquecendo de fazer telefonemas, ela que perdia o fôlego mas disfarçava deveras bem... e , de repente, estava lá o espelho. De onde saíra? O que queria? O que indagava?
Era um dia calmo, tranquilo e ensolarado. Meio da semana quase. Compras de supermercado atrasadas. Contas para pagar atrasadas. Muitos compromissos postergados. E agora, o que se queria realmente? Sabia mesmo o que devia e o que não devia fazer? Sabia realmente por que corria tanto?
E apareceu o espelho. No qual ela quase trombou. E lhe olhava e lhe questionava. Por milésimos de segundos viu que ele lhe sorria. Mas como poderia ser? Que estranha sensação de ser e não ser ao mesmo tempo. Como queria simplesmente que nada acontecesse... E foi aí que viu. Foi aí que entendeu. Foi aí que se perdeu. Porque de repente nada (e tudo) fazia sentido. Porque, de repente, o rodamoinho realmente a levava e seus pés já não mais tocavam o chão.
O (não)ser era algo que sempre estivera muito latente. Era o que lhe fazia levantar meio que assustada todas as manhãs. Entretanto, nos espelhos comuns nunca lhe saltara tanto. Nunca lhe fora tão... palpável. E agora lá estava. Sorrindo para ela. E ela entendia porque certos lhe diziam que tinha um ar irônico e debochado... Porque quando ela não se dava conta de que não era o que representava ser ela era... irônica e debochada. Não considerava que seria capaz de tanto. E de repente se deu conta de todo esse tanto.
Se não fosse com ela, se não fosse ela a que lhe olhava de volta no espelho (mesmo que sentisse que não era, pois aquilo era totalmente inesperado e por tanto, novo), talvez sentisse ultraje e vergonha.
Mas o espelho lhe convencia. Lhe convencia de que tudo tinha um motivo. E agora lhe repetia que sempre lhe dissera isso - mas ela jamais o escutara.
E foi aí que tudo aconteceu...
Comentários